Pastor Michael Jackson deixa os altares e cria marca vestida por Michelle Bolsonaro
Por Aline Gabriel de Brito
“Michael Jackson não morreu, virou crente!”. Dessa forma, os internautas nomearam o vídeo do cantor gospel carioca Silvio Maia dançando os passos do Rei do Pop em um festival evangélico no Vale do Jequitinhonha, Minas Gerais. O público logo deu a Maia o apelido de “Pastor Michael Jackson”, mas o artista afirma que nunca foi ministro em nenhuma igreja. A gravação, coincidentemente feita três dias antes da morte de Michael Jackson, ganhou milhões de visualizações em questão de dias. O clipe original foi deletado do YouTube com 119 milhões de visitas segundo o performer gospel. Porém, Maia afirma que o legado do vídeo se manteve vivo e alavancou sua carreira a nível nacional.
- Aconteceu uma cena hilária também nesse dia. Cantando e dançando, eu estava com um sapato que tinha acabado de comprar para usar naquele evento e ele saiu do meu pé quando eu fiz o passo de dança. Os pastores queriam que eu fizesse a apresentação Michael Jackson nas igrejas e pagavam para isso, fui muito bem remunerado – relatou o artista.

Silvio Maia faz o passo Moonwalk em apresentação na Igreja Semeando a Palavra, no Rio de Janeiro
Fonte: Canal do YouTube Power Gospel
Maia se inspirava no gospel das igrejas negras norte-americanas para fazer as suas apresentações de canto e dança. A seção à la Michael Jackson dos seus shows era formada pela performance de “Dia da Alegria” – o seu maior sucesso – junto ao “Passo do Michael” – apelido do artista carioca ao clássico passo Moonwalk do hit “Billie Jean” - e os famosos efeitos sonoros de Michael Jackson - os gemidos, notas altas e ganidos característicos das músicas do Rei do Pop.
- Na verdade eu já era um fã quando criança. Estou com 45 anos, então cresci ouvindo Michael Jackson. Eu gosto do Michael desde que ele estourou no Brasil, em 1983, com “Thriller”. Gosto muito de dançar, e aí eu me inspirei no Michael e tentei levar isso para dentro da igreja – contou o astro gospel.
A mudança de ramo
O cantor evangélico colheu os frutos de sua fama do momento em que o vídeo foi postado, em 2009, em diante. O “Pastor Michael Jackson” fez tours por igrejas e festivais evangélicos de todo o Brasil. Entretanto, Maia diminuiu gradualmente o número de apresentações até parar definitivamente em 2014.
“Com o tempo eu engordei bastante (risos). Hoje eu não consigo mais dançar”, contou Silvio Maia.
Segundo o artista, ele sentia fadiga e falta de fôlego ao pular e fazer as piruetas inspiradas no Michael Jackson. O cantor gospel fez sua última apresentação em 2017, no Programa do Ratinho.
As limitações físicas prejudicaram o cantor e dançarino de representar o Michael Jackson gospel nos altares de igrejas, mas ele encontrou outra forma de mesclar arte com a fé. Silvio viu na moda evangélica um nicho com grande demanda de público e potencial de crescimento. Assim, o empreendedor lançou a grife “Camisas Silvio Maia” em dezembro de 2016. A empresa produz e vende online camisetas e vestidos ecológicos com estampas gospel. A atual Primeira-dama do Brasil, Michelle Bolsonaro, usou uma bata da marca evangélica quando acompanhou seu marido em um evento no fim de 2018. Maia disse que ficou muito surpreso ao ver Michelle vestindo uma peça de sua marca, já que ele não conhecia a Primeira-dama pessoalmente e a grife “Camisas Silvio Maia” ainda era uma empresa pequena e local. Líderes do meio evangélico, como o casal Silas e Elizete Malafaia e a Pastora Rose Nascimento, vestem peças do designer com frequência.
O sucesso dos cultos do Pastor Michael Jackson foi unânime na internet. Porém, seu modo descontraído de louvar dividiu fiéis. Silvio Maia atuava em igrejas da Assembleia de Deus, denominações pentecostais que têm em comum regras sobre a discrição e moderação no ato do culto. Muitos internautas criticaram o cantor por sua abordagem do gospel pelo Rei do Pop, acusando Maia de blasfêmia.
- Fui completamente hostilizado, mas muita gente gostava e Deus resolveu transformar a maldição em benção. Principalmente pelas crianças, que adoravam o meu trabalho – disse Maia.