Riffs de guitarra impulsionaram o sucesso do Rei do Pop
Por Raphael Batista
Michael Jackson, artista do universo pop que utiliza solos de guitarra “virtuose”, normalmente encontradas no Rock, Jazz e Blues. “Beat it”, “Give into me”, “Dirty Diana”, “Black or White” e “Smooth Criminal” são exemplos deste fenômeno artístico. “Com certeza, um riff de guitarra certeiro pode ser suficiente para alavancar ao sucesso uma música. Muitas vezes o riff de guitarra é tão envolvente e marcante que é mais forte que o próprio refrão da música”, disse Leandro Souto Maior, guitarrista, jornalista, especialista em guitarra brasileira e autor do livro “Heróis da Guitarra Brasileira”.
Michael teve como parceiros musicais, guitarristas famosos, sendo eles Slash do Guns and Roses, Steve Stevens, guitarrista do Blly Idol e Eddie Van Halen da banda Van Halen. Porém, durante seus mega shows nos anos de 1980, a guitarra solo era conduzida por Janifer Batten, uma mulher que quebrou paradigmas num universo predominantemente masculino.
- Michael Jackson possuía uma forte ligação com os riffs de guitarra em suas canções. O artista dava importância para quem seria o guitarrista que estaria o acompanhando. Eu adoro Michael Jackson, sou um apaixonado por guitarra e, olhando de fora, parece claro que o Michael Jackson privilegiava o instrumento em várias de suas músicas. Sempre esteve acompanhado por músicos especialmente talentosos, sem falar nas marcantes participações de heróis da guitarra como Eddie Van Halen e Slash - disse Leandro, que escreveu junto com Ricardo Schott um livro que conta a história da guitarra no Brasil.
Notas tocadas de forma veloz
Leandro Souto Maior disse que sempre combateu o uso do termo “pop” como gênero musical:
- Para mim, “pop” é apenas a abreviação de “popular”, então existem rocks populares (“pop”,) assim como “blues pop” (“Old Love”, com Eric Clapton, por exemplo) e “jazz pop” (“Take Five”, de Dave Brubeck), mas não existe, no meu entendimento, um gênero musical chamado “pop”. Em princípio, pode parecer exótico um solo de guitarra “virtuose”, cheio de notas tocadas de forma veloz, daqueles destinados mais a entreter especializados do que marcar a memória do grande público, como teoricamente faz um solo de poucas notas marcantes. Mas a história está repleta de músicas que se tornaram clássicas, portanto confirmaram sua vocação pop, e que têm solos “virtuoses”, como por exemplo “Sultans of swing”, do Dire Straits, e “Stairway to heaven”, do Led Zeppelin - aponta o músico escritor.
Os riffs de guitarra na estética musical escolhida pelo o Rei do Pop tem relação com o sucesso de alguns de seus rits. Leandro esclarece dizendo o seguinte:
- Sei que o Michael trabalhou com produtores excepcionais como o Quincy Jones e confesso que eu mesmo gostaria de saber se a decisão na escolha de um Eddie Van Halen, por exemplo, foi algo que partiu do produtor ou do próprio artista. Muitas vezes, o produtor dá todo o tom do som que vai sair, mudando até a personalidade anterior do artista, como acho que aconteceu com o Michael Jackson após o “Off the wall”, em 1979.
Leandro afirma que a guitarra sempre foi o instrumento que mais se identificou com o rock:
- E assim é o guitarrista, a personificação do gênero, rebelde e selvagem. E o Michael Jackson sempre soube explorar isso, indo além dos discos, mas também cenicamente, como dá para ver no filme This is it, com coreografias marcadas de interação dele com a guitarrista, sempre valorizando o solo, que costuma ser um momento ápice das músicas – disse Souto Maior.
- A importância para as novas gerações de guitarristas é que fica notável em várias músicas da obra do Michael Jackson como a guitarra é um instrumento importante, seja no solo ou no riff, e que pode determinar o sucesso de uma música, de uma carreira - contou do especialista Leandro Souto Maior.

Leandro Souto Maior, jornalista e escritor, especialista em guitarra brasileira
Mulheres na guitarra
Um dado não explorado por publicações que se predispõem a informar sobre como se deu a vida do artista gênio do Pop é que Joe Jackson, pai de Michael, era guitarrista e foi o grande responsável pela precoce carreira do artista aos cinco anos de idade nos Jackson 5, junto com seus irmãos.
Michael tinha uma guitarrista mulher nos anos 80, Jennifer Batten, em seus shows outra guitarrista, a australiana Orianthi Panagaris, foi a última a tocar com ele e esteve presente em todos os ensaios da turnê, This is It, antes de Michael morrer.
Existe alguma relação psicológica para o destaque das guitarras femininas, com a infância de opressão imposta pelo pai. Sobre esta afirmação, o psicólogo Fernando Carvalho, especialista com 20 anos de experiência profissional em terapias de família disse que “não podemos atribuir tudo a isso, mas também não podemos menosprezar a importância da figura paterna para o artista e o homem Michael Jackson, sendo esta muito ligada tanto ao seu sucesso quanto às dificuldades de adaptação que enfrentou em sua vida adulta”.

Fernando segue afirmando:
- A retaliação a essa figura paterna pode ser o motivo da escolha de uma mulher para assumir a guitarra em sua banda. Isso porque sempre houve uma profusão de guitarristas dispostos a tocar com o maior astro pop da história, ainda mais em seu auge – disse o psicólogo.
Ainda sobre a questão, Fernando completa:
- Encontrar uma guitarrista do sexo feminino não seria um caminho natural. Porém, pode ser que ele tenha simplesmente valorizado o talento daquela mulher ou quem sabe, se antecipado a uma tendência atual de valorização e dissociação da mulher de seu contexto atribuído culturalmente, no que conhecemos hoje como "empoderamento feminino”. Seja qual for o motivo, o fato é que ele acertou em cheio, vide o sucesso desta que veio a ser sua lead guitar, Jennifer Batten, durante um período expressivo de sua carreira – explicou Fernando.
Fernando Carvalho, psicólogo especialista em terapia familiar