Os videoclipes do Rei do Pop ainda são referência na indústria audiovisual
Por Willian Iuri

Michael Jackson, também conhecido como o Rei do Pop, morreu há dez anos, aos 50 anos, mas deixou um legado para a humanidade. Seus videoclipes são lembrados como referência de inovação e até os dias de hoje ditam muitas técnicas utilizadas na indústria audiovisual mundial.
O artista estadunidense Michael Jackson começou sua carreira profissional na música aos cinco anos, como membro do quinteto The Jackson 5, onde cantava e dançava com seus irmãos. No ano de 1971, Michael resolveu que era hora de seguir uma carreira solo, e, nos anos seguintes, o cantor promoveu sete de seus álbuns de estúdio e mais de 40 videoclipes, ou curtas-metragens, como o mesmo costumava chamar.
Michael foi o primeiro artista negro a ser transmitido em grandes emissoras de televisão, como a MTV. Vídeos como “Beat It”, “Billie Jean” e “Thriller” são e foram creditados como transformadores da indústria musical e influenciadores para outros artistas contemporâneos. Estes elevaram a emissora a um patamar om uma adesão do público muito maior. Na década de 90, clipes como “Black or White” e “Scream” mantiveram o cantor no topo das paradas de sucesso e das transmissões de tv, mesmo que algumas destas produções tenham recebido fortes críticas por seu conteúdo sexual, violento e obscuro.
O diretor Rafael Kent, responsável por produzir inúmeros videoclipes para grandes cantores do cenário pop nacional, como Tiago Iorc, Sandy, Iza, entre outros, acredita que Michael Jackson foi grande por ser extremamente completo. Para ele, o rei do pop chegou em uma época onde o show business estava estruturado e preparado para receber um talento da magnitude de Michael.
– Ele chegou no mercado da música de uma maneira avassaladora, mas isso só foi possível porque, antes dele, tiveram os Beatles. O mercado na década de 60 e 70 não estava preparado para artistas do tamanho deles, e foram eles mesmo que criaram o conceito de videoclipes. Eles não podiam tocar nos lugares pela confusão dos fãs, então começaram a criar vídeos cantando para que as pessoas pudessem assistir de casa. E o Michael elevou isso muito acima do que qualquer outra pessoa já fez. Como por exemplo, Thriller, que é o primeiro filme-clipe da história – contou.

No entanto, Kent salienta que, apesar de Michael trazer toda essa novidade de uma maneira muito pop e profissional, ele não estava só.
– Quincy Jones também ajudou muito ele nesta guinada profissional. Ele era o produtor musical do cantor e merece muitas das qualificações que foram destinadas a MJ. Os diretores dos clipes também têm grande importância em tudo isso, tinha muito dinheiro investido nele. Um artista quase sempre não é o cara que faz tudo. As vezes ele recebe tudo pronto e só dá o aval. Acredito que muito do que o Michael tenha feito aconteceu dessa forma. Não necessariamente veio dele. Mas ele soube aproveitar as oportunidades e enxergar nas ideias um grande potencial de mudança. Ele era muito completo e dedicado. O figurino dele era muito impressionante também. E ele era tão incrível que virou refém do próprio personagem. E usou a indústria do pop de maneira brilhante – contou.
O diretor de videoclipes Chico Kertész foi o responsável pela concepção do recente single “Saudade”, último trabalho de Claudia Leitte, que conta com várias referências de trabalhos de Michael Jackson. Ele contou que a ideia surgiu a partir de uma conversa com a cantora, que também é fã do Rei do Pop. Segundo ele, o trabalho do astro sempre está presente em seus vídeos, mesmo que indiretamente.
– Quando eu vou fazer qualquer videoclipe a maior referência é ele. Ele é o cara que mudou esse mercado, que trouxe o cinema de forma presente nos clipes. Não tem como pensar num clipe sem cogitar ele. Mas nós vivemos num momento nebuloso. Depois do recente documentário onde ele é acusado de pedofilia, a gente não sabe o que vai acontecer, como essa referência vai ficar para as próximas gerações. Não sei como vai ser aceito no futuro. Mas sem dúvida, devemos dividir o trabalho dele, da pessoa.
O videoclipe de maior sucesso do astro foi “Thriller”, que revolucionou a cinematografia e trouxe um novo conceito para o mundo audiovisual da música. Dirigido por John Landis, conhecido pelo sucesso em filmes como "Os irmãos cara de pau" (1980) e "Um lobisomem americano em Londres" (1981), o clipe de "Thriller" recebeu toda a atenção na época. Graças a grandes efeitos especiais, uma coreografia icônica e amplamente imitada, além de uma ambiciosa história, "Thriller" prestava uma homenagem ao seres típicos do universo do terror, como zumbis e lobisomens, em um videoclipe de 12 minutos de duração. A obra recebeu um Grammy e três prêmios no MTV Video Music Awards. Além disso, o clipe foi incluído em 2009 no Registro Nacional de Cinema da Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos por ser considerado como o "vídeo musical mais famoso" da história.
O fã e criador do Site MJ Beats, Marcos Antônio Freitas, conta que o vídeo musical de “Thriller” fez tanto sucesso na época, que a MTV repetia o clipe num intervalo de 40 min.
– Prova desse sucesso todo são as constantes referências feitas a ele pelo cinema, pela televisão e até em outras canções e videoclipes. Os filmes “O Retorno dos Mortos Vivos, Parte II” e “De Repente 30” mostram de forma clara sua referência. Algumas séries de TV como “South Park” ou “The Simpsons” também tiveram Thriller com o referência em alguns de seus episódios. Uma coisa que muitos não sabem sobre o álbum Thriller, é que a Epic, gravadora, deu três meses para que Michael e Quincy Jones gravassem o álbum em 1982. Quando os dois terminaram os trabalhos e ouviram o disco, não gostaram do resultado e pediram outros três meses. O álbum com o tempo de produção mais curto já gravado pelo cantor – afirmou.
Da primeira obra audiovisual da história do cantor na carreira solo, "Don't Stop 'Til You Get Enough", em 1979, a última, “Cry”, lançada em 2001, MJ foi e será lembrado sempre pela genialidade e identificação com o público. Uma multidão de pessoas em todo o mundo pôde ouvir suas músicas e se interessar por sua história, mas os videoclipes do cantor quebraram barreiras sociais e marcaram a história de muitas crianças e jovens da época. Como é o caso de Kent, que foi muito influenciado a seguir na carreira de direção pelos clipes de Michael Jackson.
– “Bad” foi um clipe que mudou a minha vida. Aquele no metrô. Que eu me lembre, esse clipe marcou minha vida não como diretor, como uma criança mesmo, que nunca tinha visto aquilo na vida. Ele mudou a cara da indústria, e começou a fazer clipe muito caros, e filmes realmente. Com muita coreografia, muita história onde a dança estava inclusa. “Moonwalk” também me impressionou muito, porque mesmo tendo passado tantos e tantos anos, se você vê-lo hoje, parece que foi feito mês passado. Um jogo de luzes, de câmeras. Muito do que foi feito ali a gente pode ver hoje, em especial em alguns clipes do Kendrick Lamar. Ele não mudou só a mim, mas criou um novo conceito de mercado, e alcançou todo mundo. Até quem não conhece ou não curte tanto, sabe reconhecer o valor dele para a indústria e para a história da música, e isso é genial – contou.
Sobre as inspirações, o diretor acredita que o mercado está saturado de referências ao astro pop. Não só no Brasil, como no mundo, Michael é usado como referência desde que surgiu no cenário musical.
– Eu tento sempre seguir sem me inspirar tanto diretamente nele. Claro que ele mudou tudo, mas o mercado ficou muito saturado de inspirações na figura pessoal e profissional do MJ. Todo mundo quer fazer alguma referência a ele e isso acaba ficando um tanto repetitivo. Mas independente disso, as referências a ele vão continuar entre nós por muito tempo. Ou nunca vão acabar. E que bom, porque ele é histórico – concluiu.
